sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Explicações


O presente trabalho se ocupa em estudar a história e as festas de Matosinhos, sobretudo a do Divino Espírito Santo. Matosinhos é o mais populoso bairro de São João del-Rei, no centro-sul do estado de Minas Gerais. 

Melhor seria dizer que estudo as “histórias”. E por que não estórias? Me refiro à parcela extra-oficial, aquela que não consta nos livros e documentos: a cultura popular, verdadeira riqueza do povo e o elo de ligação entre o passado e o presente. É ela que sustenta boa parte da tradição e dá sentido à própria história, que do contrário não seria vida, mas um amontoado de informações mortas. Se tratamos de uma ciência humana devemos antes de mais nada tratá-la com humanismo. Esse aspecto será privilegiado neste estudo.

Quanto às festas o enfoque será dado à Festa do Divino, justo aquela que dentre tantas do lugar consegue reunir em seu bojo a maior parcela dessa cultura que acabo de citar. Sua trajetória ao longo dos anos é o meu objetivo central.

Não posso porém deixar de aludir às outras festas, ainda que de breve passagem, sobretudo à do padroeiro, o Senhor Bom Jesus de Matosinhos. Isso porque outrora eram uma só, desligadas nos meados do século XX para assumirem outra coloração, objetivo e destino. Não nego o sonho de um dia ver os dois jubileus unidos como noutros tempos, mas creio que nunca verei isso. 

Nos meios populares, essa festa é um evento muito esperado. O observador superficial verá nela apenas a oportunidade da quebra do cotidiano, mas de fato elas são o dia da verdade, da expressão maior da fé e da renovação das esperanças. A festa confirma a aliança com Deus, dá forças para se aguentar a peleja cotidiana. Observando com apurada sensibilidade as festas açorianas que se realizam na Ilha Terceira em louvor ao Senhor Divino, MENDES (2001) teceu estes comentários sábios, perfeitamente transponíveis para o nosso contexto: 

A festa religiosa situa-se na atitude do homem crente frente ao Mistério no âmbito do sagrado. Expressa-se em linguagem simbólica, característica da linguagem humana feita por ritos, palavras e gestos. É uma forma de expressar a atitude religiosa, onde entra o sentimento e a emoção, como resposta ao Mistério que se faz presente. Esta expressão é pessoal, visto tratar-se de um encontro, mas, porque transborda o próprio indivíduo e se expressa com outros, nas mesmas categorias culturais e tradicionais, tem necessidade de ser partilhada em comunidade (sic, p.25). 

Perscrutando novos e velhos jornais, além de outras fontes, este estudo só tem o compromisso de colaborar com o registro dos fatos passados e atuais envolvidos com o Bairro de Matosinhos. Procuro sem academicismo demonstrar os caminhos evolutivos dos festejos ao longo da estrada histórica, inclusive suas progressões em relação ao passado. Essas mudanças são enfim a sua própria vida. A festa não está engessada. 

Pequenas parcelas do conteúdo deste estudo já foram em parte externadas, por via oral e escrita, num conjunto de informações contidas em entrevistas, matérias jornalísticas, artigos, que se esparramaram por jornais, boletins, livros, teses, mídias digitais, além de rádio e televisão, tudo com o objetivo da divulgação em prol do evento, mas nem sempre com o devido respeito à verdadeira autoria. 

As impressões de minha participação direta na organização da festa, de 1998 a 2005 também estão contidas. Coloco ainda as observações de 2006 a 2011, quando já não fazia parte da comissão de festeiros. Consta ainda do presente volume as principais notícias do “bairro-cidade”, que perpassaram pela imprensa são-joanense nos primeiros anos do presente século. 

Notas e Créditos

* Texto: Ulisses Passarelli           

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