terça-feira, 30 de julho de 2013

As Festas de 1923

Não faz muito tempo este blog noticiou o nome da Imperatriz do Divino do ano de 1927, a esposa do ilustre Basílio de Magalhães, sra. Flávia Ribeiro de Magalhães. Prosseguindo as pesquisas, agora do ano de 1923, este post traz a lume os nomes do Imperador Antônio Balbino de Souza e da Imperatriz Antônia de Araújo Simões.


Em 1923, às vésperas da proibição ou remodelação imposta pelo processo de romanização da Igreja, os legendários festejos do grande bairro são-joanense eram organizados por uma extensa comissão de festeiros, dividida em três grupos, um para cada dia de festa. O primeiro dia, Domingo de Pentecostes, dedicado ao Espírito Santo, era o com maior número de cargos, incluindo além do casal imperial, três caudatários (pajens da imperatriz), três pagens do estoque (vassalos do imperador), três alferes da bandeira (dentre os quais Samuel Soares de Almeida), vários mordomos e irmãos de mesa. 


Os outros dois dias, segunda e terça-feira, consagrados respectivamente ao Senhor Bom Jesus de Matosinhos e a Nossa Senhora da Lapa (que o jornal pesquisado cita apenas como N.S.da Conceição), tinham cargos relevantes na figura dos juízes (as):

- Manuel da Cunha Lima (Bom Jesus)
- Carmen Mello (Bom Jesus)
- Amarante Araújo (Nossa Senhora)
- Anna Lopes de Oliveira Alves (Nossa Senhora)

Além do juizado um grande número de irmãos de mesa foi listado para cada dia. A lista de nomes se completa com três cargos importantes, servindo a todos os dias festivos: 

- Tesoureiros: André Bello / Irineu Cantelmo
- Secretários: João Francisco Nogueira / João Evangelista Pequeno
- Procuradores: Teophilo Rodrigues (1º dia) / Joaquim Rodarte (2º dia) / Eduardo Cancio Rodrigues dos Santos (3º dia)

Os procuradores tinham um papel especial na administração dos festejos, semelhante ao do atual presidente da comissão de festa. 

Mais uma vez, a listagem revela ainda nessa época, nomes importantes da sociedade são-joanense envolvidos com o evento, tais como o célebre fotógrafo André Bello, os maestros João Pequeno (que nomina uma rua do centro histórico desde 1949, o antigo Beco da Romeira) e Teophilo Rodrigues (notável regente da Banda Teodoro de Faria, por longos anos), dentre outros. 

Por estas alturas, os planos de mudanças para a festa já andavam à plena, pois uma notícia, da mesma época, revela a intensão de formar em Matosinhos um jubileu da Santa Cruz, pela passagem da data do 03 de maio, que converteria a formatação dos festejos para os moldes da festa de Congonhas, com a presença do próprio arcebispo, Dom Helvécio Gomes de Oliveira. 


No ano anterior já havia acontecido em setembro um jubileu dedicado ao Sr. Bom  Jesus de Matosinhos, o primeiro até aqui noticiado nesta data, anterior ao que imaginávamos como inicial (nos princípios dos anos 50). Notícia muito interessante, de leitura custosa, revela que, antecedido por uma novena, no dia principal, o Padre A.C.Rodrigues fez enérgico sermão enaltecendo os valores da cruz aos fiéis. Missa, concorrida procissão do Santíssimo Sacramento e sua bênção respectiva, te-deum e um destaque para o grande número de comunhões, mostram a nova diretriz festiva já esboçada e de linha bem evidente e firme. Mais uma vez, há a promessa de fazer para 1923 um jubileu "igual ao de Congonhas do Campo", segundo intensão do festeiro, Coronel J.Severiano da Silva, o que é muito sintomático. 


As diretrizes novas para os festejos de Matosinhos já estavam semeadas e em vias de implantação. A romanização estava a todo vapor. A supressão da festa em 1924 foi uma atitude drástica e marcante para deixar bem claro à comunidade a nova ordem de comemorações. 

Referências Bibliográficas 

- GAIO SOBRINHO, Antônio. Bandas Musicais em São João del-Rei e a Banda Teodoro de Faria. Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei, v.10, 2002.
- GUIMARÃES, Fábio Nelson. Ruas de São João del-Rei. São João del-Rei: FAPEC, 1994. 

Referências Hemerográficas

- Jornais antigos do acervo da Biblioteca Municipal Baptista Caetano d'Almeida, São João del-Rei: 
   - A Tribuna, n.464, 18/03/1923
   - A Tribuna, n.468, 15/04/1923
   - Acção Social, n.858, 21/09/1922

Notas e Créditos

* Texto, pesquisa e foto-montagens: Ulisses Passarelli. 
** Jornais antigos do acervo da Biblioteca Pública Municipal Baptista Caetano d'Almeida, São João del-Rei, disponíveis em seu site

segunda-feira, 29 de julho de 2013

O Auto-omnibus

O trem foi durante muito tempo o principal veículo de transporte urbano entre São João del-Rei e Matosinhos, o que já foi demonstrado em algumas postagens deste blog. Chagas Dória ainda está lá para comprovar, fantasmagórica estação morta. 

Havia é certo a "Estrada da Tabatinga", o caminho antigo e natural, que vindo do Matola, atravessava o Córrego da Tabatinga (palavra de origem indígena, usada para denominar uma argila clara, "barro branco"), que desce da Caieira (hoje Bairro São Judas Tadeu), seguia para Matosinhos entre o Córrego do Lenheiro à esquerda, e a via férrea à direita. Esta estrada, outrora desprovida de casas ao redor, era o "caminho da roça", a estradinha do arraial de Matosinhos, com pouco trânsito, senão o de carroças, charretes, carros de boi, tropas, cavaleiros e alguém à pé. Com entrada pela Rua Bernardo Guimarães, passava diante da igrejinha demolida em 1970 e fletindo à esquerda, rumava para a Ponte do Porto. 

É o caminho velhíssimo trilhado pelos bandeirantes alucinados pelas riquezas minerais. Hoje asfaltado e cheio de casas no entorno é nada mais que uma rua comum, perdida entre tantas da urbe, como sua história calcada sobre calçados e pneus. 

A noventa anos uma novidade surgia em São João del-Rei: a linha de ônibus, ou melhor "auto-omnibus", como se dizia na época. O primeiro era como um circular, que no começo de 1923 fazia um giro pelo Centro Histórico,  Tijuco, Fábricas e Matosinhos (onde a passagem era de 200 réis). A Tribuna foi um jornal da cidade que registrou para a posteridade este pedaço da história que ao olhar atual se colore de pitoresco aspecto.  


No mesmo ano, pouco depois um segundo veículo da mesma empresa começou a reforçar a linha urbana, comprovando assim que houve demanda de passageiros. Ele sofreu um acidente que danificou a carroceria e quando da sua reforma foi noticiado pelo mesmo jornal que serviria à linha de Matosinhos


Segundo notícias orais os primeiros veículos eram "jardineiras", pitorescos calhambeques com carroceria coberta, mas vazada nas laterais, contendo bancos de madeira onde iam os passageiros. Mais tarde foram substituídos por outros totalmente fechados, que aqui foram apelidados de "grisú". 


Notas e Créditos

* Texto e fotomontagem: Ulisses Passarelli

domingo, 14 de julho de 2013

Uma grande festa

Dando continuidades às pesquisas jornalísticas sobre o Matosinhos antigamente, selecionei novos recortes extraídos do extraordinário acervo (digital) da Biblioteca Municipal Baptista Caetano de Almeida, de São João del-Rei/MG:


Transcrição: " Festa de Matosinhos. Foi eleita imperatriz da festa do Espírito Santo, a realizar-se brevemente no nosso pitoresco arrabalde de Matosinhos, a exma. sra. d. Flávia Ribeiro de Magalhães, consorte do deputado Basílio de Magalhães, representante do 4º districto mineiro e presidente da Camara Municipal de S.João del Rey." (Jornal: A Tribuna, São João del-Rei, nº846, 24/04/1927). 
Comentários: esta notícia é mais uma prova concreta que a festa não paralisou totalmente em 1924, mas sim mudou drasticamente de rumos ou diretrizes. Três anos depois a esposa do gênio intelectual Basílio de Magalhães se torna imperatriz. Basílio era um dos diretores d'A Tribuna e figura destacada da política local. Eis a dimensão de importância da Festa do Divino nessa época. 


Transcrição: "Acha-se nesta cidade em propaganda da cerveja "Rhenaaia" de Bello Horizonte, o Snr. Ovidio Corrêa. Este senhor, para fins de propaganda da excellente bebida, installou em Mattosinhos uma barraca, onde tem obsequiado os freguezes com aquella (... ilegível) cerveja." (Jornal: A Nota, nº 60, 11/07/1917)
Comentários: para divulgação de uma marca comercial o representante escolheu a festa de Matosinhos, coincidente com o período para difundir seu produto. A popularidade e movimento da festa assim  o permitiam. 

Notas e Créditos

* Texto e fotomontagens: Ulisses Passarelli