No ano anterior escrevi sobre os imperadores da Festa do Divino quanto ao aspecto histórico,
pincelando algumas informações acerca da escolha e coroação. No informativo do
jubileu de 2013, este texto pode ser lido pelos que se interessarem nestas
informações.
Mas ora focalizo
outra vertente, bem mais intrínseca e difícil de explanar, ligada à idealização
do que se espera de um Imperador do Divino. Sou suspeito para falar e eu mesmo
não sei se sou ou fui o que escreverei, mas colocarei o que penso que todos os
imperadores devessem se esforçar para ser.
É preciso
entender que o imperador representa na festa do Espírito Santo um personagem
muito tradicional, que concentra em si todo o simbolismo da cultura popular
acerca do sagrado em relação a esta festa. Sua figura é muito respeitada e se
torna o festeiro de honra, o representante maior da comissão de festejos nos
eventos sociais e religiosos ao longo de todo o ano. Se o presidente é na
atualidade a figura maior na estrutura administrativa do Jubileu do Divino, o
imperador é o elemento exponencial na estrutura simbólica, festiva e cultural.
Isto impõe à
Comissão Organizadora uma grande responsabilidade na escolha do próximo
imperador a cada ano. É preciso escolher com plena maturidade, senso crítico,
isenção de questões pessoais. Uma escolha eventualmente mal sucedida pode ser
desastrosa, até porque o imperador perde a coroa, mas não perde o império ante
o novo coroado; em outras palavras, segundo entendimento geral dos festeiros,
não existe ex-imperador, mas imperador de 1998, de 1999, de 2000... etc.
Os possíveis
candidatos devem ser analisados sob um crivo de comportamento, dedicação,
empenho, responsabilidade, apego à causa, trabalho prestado à festa, espírito
de cooperação. Logo se vê que o ato de ser imperador não deve ser encarado como
uma aventura, um luxo ou um degrau social a se subir para ganhar visibilidade. É
um compromisso vitalício, perene.
O grau de
comprometimento com a programação festiva, com as reuniões ordinárias e
extraordinárias, com as participações em outros eventos que a comissão
organizadora é convidada e com a coordenação das atividades cotidianas exigidas
para a difícil tarefa de organizar a festa, tudo enfim, deve ser intenso e
vivenciado com fé. Por traz da capa de veludo, da gravata, dos aplausos e flash’s fotográficos existe o peso de
uma grande responsabilidade.
Bispo Diocesano de São João del-Rei, Dom Célio de Oliveira Goulart, coroa o Imperador do Divino, Edmilson Washington da Silva. |
É preciso
pontuar também a natureza específica dos festejos em São João del-Rei, que
reúnem no Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos um número considerável de
grupos culturais, sobretudo congados e folias, com os quais o imperador deve exercer
um papel de interlocução, fazendo o elo que diferencia por completo a presença
deles, de mera apresentação para uma participação integrada. Desta forma, como
o grande anfitrião, deve ter pleno respeito aos congadeiros e foliões, mesmo
que não compartilhe de suas crenças e ritos.
Na outra ponta o
imperador é o canal da maior importância para conservar o diálogo com o clero,
transmitir e fazer cumprir as diretrizes eclesiásticas, sendo a Igreja a
verdadeira Mãe da comemoração, que em síntese acontece em seu espaço físico e orientação
espiritual. Nunca é demais lembrar que Pentecostes é uma data litúrgica das
mais relevantes para o cristianismo e o Jubileu do Divino desde sempre é uma
festa católica.
Defendo que a
Comissão do Divino devesse estruturar um “Conselho dos Imperadores” como órgão
consultivo, que poderia ser muito útil diante de questões as mais diversas e que
reforçaria a coordenação da festa pelo compartilhamento de responsabilidades.
O imperador é, portanto,
o festeiro especial, aquele que acolhe e transmite, pondera e equilibra,
recepciona e promove, dá o exemplo e arregaça as mangas para o trabalho, que se
inteira da história da festa e da programação para seu próprio saber e para
respaldo das entrevistas e perguntas de fiéis. Ser imperador é encarnar e
incorporar o festeiro ideal, que age em irmandade, movido pela devoção, dando
seu esforço voluntário pelo bem comum.
Notas e Créditos
* Texto: Ulisses Passarelli
** Foto: Iago C.S. Passarelli, 20/05/2013
** Foto: Iago C.S. Passarelli, 20/05/2013
*** Texto escrito a pedido da Comissão do Divino. Publicado em: Informativo do Jubileu do Divino Espírito Santo, São João del-Rei, Paróquia de Matosinhos, n.17, jun./2014.
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