quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Cortejo

Assista ao vídeo que exibe parte do cortejo da Festa do Divino clicando no link abaixo:



Cortejo. Festa do Divino. São João del-Rei.
Foto: Iago C.S. Passarelli, 08/06/2014. 


terça-feira, 22 de setembro de 2015

Moçambique de Santana do Garambéu

Moçambique bate-paus de Santana do Garambéu, no
interior do Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos.
Jubileu do Divino, 19/05/2013.

Notas e Créditos

* Texto e acervo: Ulisses Passarelli
** Vídeo: Iago C.S. Passarelli

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Folia do Divino na missa


Folia do Divino "Embaixada Santa" durante a missa na 
véspera de Pentecostes, Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos,
São João del-Rei. Folião e Embaixador: Luís Carlos Rosa, Bairro Araçá. 

Notas e Créditos

* Texto, edição e acervo: Ulisses Passarelli. 
** Vídeo: Iago C.S. Passarelli, 18/05/2013. 

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Vamos na Casa de Deus!



Neste curto vídeo de sofrida qualidade, tomado de improviso de um telefone celular, observa-se a entrada no Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos do congado de Paraíso Garcia, distrito de Santa Rita do Ibitipoca/MG, no momento da entrega do reinado. Foi sua primeira presença no Jubileu do Divino, a 24/05/2015.

O grupo, demonstra perfeita sintonia de ritmo e cadência, com uma percussão de bastões muito bem ensaiada, e a beleza visual das fitas multicores entrecruzadas no peito e nas costas dos dançadores. 

Como guarda de corte, esta modalidade de congado se ajusta à categoria popularmente chamada moçambique bate-paus, facilmente diferenciável de outros moçambiques que não fazem a percussão de bastões. É identificado também pelo tinir dos guizos (paiás) atados nos tornozelos dos dançantes. 

A localidade em questão está bem na área geográfica desse modelo de congado, difundido nos Campos das Vertentes.

Notas e Créditos

* Vídeo,edição, acervo e texto: Ulisses Passarelli

terça-feira, 9 de junho de 2015

Adeus, Padre Pedro ...

É com grande pesar que São João del-Rei despediu-se hoje do queridíssimo Padre Pedro Teixeira Pereira, sepultado no Cemitério das Mercês, nesta cidade. Com uma vivência em plenitude da vida religiosa, 62 anos de sacerdócio, era em geral reconhecido pelas suas virtudes, pelo carinho extremado com os fiéis, sobretudo os doentes, e pela pregação que unia o lado catequético à elevada profundidade da palavra. 

Matosinhos se habituou a vê-lo no santuário, celebrando a missa das 15 horas das sextas-feiras, sempre muito concorrida. 

De sua popularidade servirão de testemunho os muitos relatos de quantos se sentiram beneficiados por suas orações e palavras e ainda, a missa de corpo presente na Catedral Basílica de Nossa Senhora do Pilar, absolutamente lotada de devotos e com a presença maciça do clero. Os sinos anunciaram o lutuoso acontecimento o dia todo. A orquestra fez os violinos chorarem no coro da igreja. A banda em tom funéreo, o imortalizou em sua marcha, na frente do hospital funcionários o aplaudiram comovidos à passagem do féretro, membros de muitas irmandades, cingidos de opas, caminharam cabisbaixos no seu enterro. Entre pai-nossos e ave-marias, o povo desconsolado o encomendou. 

Este blog consternado manifesta condolências à família, parentes e amigos, rogando ao Espírito Santo a consolação para os que ficam com saudades e luz para o seu caminho na Casa do Pai. 

Padre Pedro Teixeira em 2006, durante a
Procissão do Imperador Perpétuo, no 

Jubileu do Divino. 

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Procissão do Imperador Perpétuo 2015

Encerrou ontem o grande jubileu em honra ao Espírito Santo, a tão querida e concorrida Festa do Divino, cuja beleza e valor religioso nunca é demais exaltar. O Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, em São João del-Rei, após os dias anteriores de novena, esteve lotado de fiéis nos dois últimos dias, favorecidos por um tempo aberto, embora frio. 

A Procissão do Imperador Perpétuo, no dia 23 do corrente, transcorreu bem na sua travessia pelo centro histórico, com certo atraso, verdade o seja, mas animadamente musicada pelas folias presentes, que ao longo de todo longo trajeto se alternaram na cantoria. Como de costume, o cavaleiro foi à frente em abre-alas, com o grande estandarte, ladeado pelos ponteiros, também a cavalo; na charrete veio o Mordomo da Bandeira, Sr. Mário Calçavara, folião respeitado e querido por todos. Muitas bandeiras vermelhas do Paráclito vieram na sequência, seguidas pelas folias, a corte, o Imperador Coroado, sob a umbela e guarnecidos pelos guarda-coroa de espadas em punho, e por fim, a liteira com Santo Antônio, trazida por soldados montanhistas do glorioso 11º B.I. 

O pároco de Matosinhos, ao centro da procissão, vinha com uma nova imagem do Divino em forma de custódia, abençoando os fiéis ao longo do caminho, com muito carisma. 

As casas em geral pelo itinerário foram receptivas, montando altares externos, enfeitando sacadas com toalhas e flores. Destaque para a comunidade da Gruta do Divino (onde aguardava a Folia do Carlão) e a de Santa Clara (onde ingressou o Imperador Eleito), bem como para a travessia Rua Bernardo Guimarães. 

A missa teve grande número de devotos e cada folia fez um canto da celebração.

Por fim, após um café com quitandas, as folias apresentaram-se no coreto para um excelente público. A apresentação contudo foi maculada por problemas de sonorização. 

Para registro segue o nome das folias do Divino presentes: folia das Águas Férreas, do folião Geraldo Elói; folia do Jardim São José ("Folia das Mulheres"), foliã "Lilia"; folia da Rua São João, folião Antônio Ventura (as três do Bairro Tijuco); folia do Guarda-mor, folião João Matias; folia da Colônia José Teodoro, folião "Carlão" (todas estas folias de São João del-Rei) e ainda, uma folia de São Sebastião, vinda de Coqueiros, distrito de Nazareno, do folião Celso Antônio da Silva, aliás, também presente no ano passado. 

O Imperador do Divino e o Pároco. 

Cavaleiros abrem alas. 


Aspecto geral da procissão. 


A cor de Pentecostes invade as ruas da cidade. 

Folia da Rua São João.

A tradicional Folia das Mulheres. 

Folia das Águas Férreas. 

Folia do Guarda-mor na Rua Getúlio Vargas,
primitiva Rua Direita. 

Folia de Coqueiros e ao fundo a Igreja do Rosário,
no centro histórico de São João del-Rei. 

Marungos da folia de Coqueiros. 

Folia da Colônia José Teodoro cantando durante a celebração
no Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos.

A liteira no Santuário. 
Apresentação no coreto.
Nesta fotografia, a Folia do Carlão. 

Café dos folieiros, no Salão da Catequese. 

Último devoto.
Notas e Créditos


* Texto: Ulisses Passarelli.
** Fotos: Iago C.S. Passarelli, 23/05/2015.
*** Para saber mais sobre esta festa leia também:

DIA MAIOR DO JUBILEU DO DIVINO 2015

terça-feira, 19 de maio de 2015

Cavalgada do Divino 2015 anuncia jubileu

Na manhã do domingo que antecede a Pentecostes, parte de Matosinhos a Cavalgada do Divino. O evento acontece desde 1998. Naquele ano e nos imediatos a cavalgada era no sábado, véspera do dia maior do Jubileu do Divino. Mas entendido em boa hora pela comissão de festeiros como um evento de finalidade anunciatória, foi antecedido para o início dos festejos. 

Os moradores de São João del-Rei já sabem, estão condicionados: quando passam estes marchantes a cavalo, com bandeiras do Espírito Santo, é sinal incontestável que a Festa do Divino começou. Os desavisados que acaso não viram alguma propaganda, anúncio, jornal informativo, agora sabem. 

A disposição geral é a de duas filas, abertas pelos ponteiros, distinguíveis pelos coletes brancos. Trazem na mão um guião, espécie de flâmula, de estrutura bem leve. Ao centro e na dianteira um cavaleiro carrega um grande estandarte abre-alas, aliás, embora reformado, é o mesmo desde a primeira Cavalgada do Divino. Na sequência vem a charrete com o Imperador Coroado e no final das fileiras de cavaleiros e amazonas, outras charretes e carroças. 

Percorrem vários bairros, passando pelas vias principais, depois retornam para o ponto de saída, na praça da Avenida Santos Dumont, onde o Capitão de Congado Tadeu, também Imperador do Divino (coroado em 2004) fincou um mastro de São Sebastião para abençoar a jornada dos participantes. 

Com sua dinâmica natural, já tendo passado por algumas coordenações, mudanças de itinerário e de data já citada, além da variação do número de participantes a cada ano, a Cavalgada do Divino a 18 anos cumpre muito bem sua missão, mantendo o objetivo inicialmente proposto para ela. 

O tecido vermelho e a pombinha branca imediatamente identificam que cavalgada é esta.
Na charrete imediatamente atrás, vem em destaque o Imperador Coroado. 

Cavaleiros e amazonas atravessam a Avenida Sete de Setembro.
É o sinal verde para a festa.  

Notas e Créditos

* Texto: Ulisses Passarelli
** Fotos: Iago C.S. Passarelli, 17/05/2015

sexta-feira, 15 de maio de 2015

A Festa do Divino 2015 chegou!!!

Ontem, as caixas zoaram pelas ruas de Matosinhos. Por mais um ano o anúncio retumbou desde as 17 horas. Não apenas o grupo de quatro caixeiros mas o próprio congado do bairro visitou o Imperador Eleito, sr. Francisco José do Nascimento e por força da tradição foram recepcionados com muita cordialidade, comes-e-bebes e espírito fraterno. De lá, em cortejo, vieram batendo tambores rua afora, até o salão da Comunidade Rainha da Paz e deste, mais tarde ao Santuário Diocesano do Senhor Bom Jesus de Matosinhos. 

Com o Capitão Tadeu no comando dos dançantes, e na hora aprazada, 19 horas, fez-se a entrada da missa. Comissão de festeiros e imperadores de vários anos estiveram presentes e caminharam solenemente. O Pároco e Reitor do Santuário, Revdm. Padre José Bittar, elevou sua prédica à excelência, com exortação dos valores sagrados do Espírito Santo na vida do Cristão e da Igreja. O Divino Paráclito é quem encoraja, reanima e age sobre os cansados, os desiludidos, os desanimados, os enfraquecidos, os desamparados, levando os fiéis que se concentram no sagrado a uma reação. Sermão notável de uma voz sábia e experiente. 

Convocados os fiéis para a novena a se começar no dia seguinte, incensada e benta a imagem do Rosário da Comissão, deram então entrada à imagem do Divino, em marcha devota, entronizando-o como se faz todo ano, aos pés da imagem do excelso padroeiro. Congadeiros elevaram seus cantares. A festa foi declarada aberta, grande jubileu! 

Logo a seguir, na sala da Comissão Organizadora, uma recepção homenageou imperadores e mais pessoas envolvidas intensamente nos festejos. 

Hoje, logo mais ao cair da tarde, os mastros serão levantados: na Igreja de Santa Terezinha, no Salão de Santa Clara e na Gruta do Divino. Depois virá a missa no Santuário e a celebração do primeiro dia de novena. Ao término, serão erguidos por fim pelos congadeiros mais três mastros, os principais, agora no adro: um de Nossa Senhora do Rosário, padroeira maior dos congadeiros, outro de Santo Antônio (o Imperador Perpétuo) e por o fim o do festejado Espírito Santo de Deus, em quem se depositam esperanças de uma vida iluminada. 

"Santo Antônio pegou a coroa,
e levou pro Imperador;
chegou lá na sacristia,
o Divino abençoou!" 
(Capitão Tadeu, Catupé São Benedito e São Sebastião, Matosinhos, São João del-Rei)

Momento no qual a imagem do Espírito Santo é afixada, com a presença do Imperador
Coroado, sr. Dácio Sebastião de Carvalho  e diversos membros da Comissão do Divino. 14/05/2015. 
Notas e Créditos

* Texto e foto: Ulisses Passarelli
** Saiba dos outros eventos deste jubileu clicando em:

PROGRAMAÇÃO DA FESTA DO DIVINO 2015


terça-feira, 5 de maio de 2015

Folias e congados expressam sua fé e cultura

Desde a mais remota origem em Portugal, as festas dedicadas ao Espírito Santo conservam uma relação muito íntima com a cultura popular. As manifestações folclóricas sempre foram parte importante das Festas do Divino, integradas aos elementos cerimoniais, compondo um conjunto festivo, alegre, cultural e evangelizador. Para que assim seja não deve ser mera apresentação. Deve haver conexão, para que a intimidade da alma devota se externe espontaneamente para o sagrado.

Esta sua identidade pode variar conforme a região, mas em geral é assim: no Brasil, em Minas, aqui em São João del-Rei. Pois no Bairro de Matosinhos, no atual santuário, este é o espírito de jubileu, onde a música, o canto e a dança se aliam em júbilo, em prece, como ferramentas de louvação, com respeito e sinceridade de coração, de nossos esforçados devotos e em especial, dos foliões e congadeiros, desde o resgate de 1998.

Antecedendo a festa, bem antes da novena, as folias do Divino já iniciam sua jornada visitando residências, onde, com a bandeira do Paráclito na dianteira, cantam louvores, recolhem donativos para o evento religioso e anunciam a comemoração, convidando os moradores a participar do jubileu, bem à moda portuguesa e açoriana. Com seus instrumentos e vozes, as folias, após dias de jornada pelas ruas, se reúnem na véspera de Pentecostes para a Procissão do Imperador Perpétuo e para a missa do último dia das romarias. Sua participação é da maior relevância e sempre atrai muita gente. No coreto armado no adro, especialmente para esta festa, arrematam seu giro anual no encontro das bandeiras, cantando todos os grupos ao público leal à tradição.

No dia maior, domingo de Pentecostes, é a vez dos congados, dos mais diversos estilos _ moçambiques, catupés, congos, caboclos, vilões, marujos _ que desde cedo chegam com um batuque de ritmos ancestrais, heranças musicais dos africanos. O canto congadeiro é um louvor, sua dança é uma saudação, seu toque é uma reza... o que o dançante faz é um ato de resistência cultural, mostrando a força do negro e sua fé viva. Os tambores elevam clamores! São porta-vozes ... precisam ser ouvidos.

Já hoje, felizmente, alcançados alguns avanços à custa de grande e longa luta pelos direitos de igualdade, mas ainda com muita estrada a trilhar, muita coisa a se conquistar, vemos, contudo, a alegria da confraternização como brasileiros de fé, povo mesclado de etnias tão antigas, ricas e complexas, trazendo às novas gerações cantares, ritmos e danças variadas, emoldurados por trajes coloridos, chapéus enfeitados de fitas e flores. O corpo em dança descreve a trajetória do povo. É sua própria história dramatizada que ali vemos com emoção. No braço da viola, no fole da sanfona narram sua crença viva.

Não pode acabar; não deve parar! Os mestres foliões e os capitães congadeiros sofrem pelejas diversas e a cada dia percebem a dificuldade em recrutar o jovem para a renovação e continuidade de seus grupos.

O sofrido devoto se reafirma no congado e na folia. Mostra para quê veio, que existe..., que tem força e devoção, que merece ser visto e ouvido, prestigiado. O Espírito Santo é a sua luz e direção, lado a lado ao rosário de Nossa Senhora, e todo o complexo cultural que traz consigo. A folia e o congado é parte da história do bairro e está ano a ano construindo um novo capítulo da história desta festa admirável, que é dinâmica e atrai os moradores de Matosinhos, do restante da cidade, da zona rural e das cidades próximas, além de turistas de longe.


A Festa do Divino é a oportunidade especial de presenciar e demonstrar esta maneira de ter fé e cultura. Em sintonia e harmonia, o povo de Deus festeja o Paráclito no império da cultura popular. A Comissão do Divino como gestora deste evento tem uma joia nas mãos, que merece o polimento e o cuidado sob as diretrizes do Imperador de cada ano. 

Congado do Bairro São Dimas, da Capitã Maria Auxiliadora, adentra
o adro do Santuário de Matosinhos. 08/06/2014.

Folia do Divino do Bairro Guarda-mor, dos foliões Fanico, Virgilinho e João Bosco,
apresenta-se no coreto da festa em Matosinhos. 26/05/2012. 

Notas e Créditos

* Texto: Ulisses Passarelli
** Fotos: Iago C.S. Passarelli
*** Obs.: este texto foi escrito para o Informativo da Festa do Divino de 2015, nº18, boletim anual publicado pela comissão organizadora deste jubileu. 

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Aldeia Africana

Ofereço a José Cláudio Henriques, incansável estudioso da história de Matosinhos
Agradeço a Arthur Cláudio da Costa Moreira, pelo apoio à pesquisa



Setenta e sete anos atrás um novo bloco desfilava em São João del-Rei, sob o enfático nome de "Aldeia Africana". Fora criado pelo folião de momo "Zé da Igrejinha", em Matosinhos e lamentavelmente a história não lhe registrou detalhes para a posteridade, tão pouco o próprio nome de batismo de nosso protagonista.

Seja como for, o Zé da Igrejinha já era um carnavalesco conhecido e antes tinha o Bloco do Tatu, de que este blog já se ocupou, e que se pode ver em foto abaixo, datada de 1937(*), na qual ele aparece bem ao centro, sentado, tocando sanfona.

Bloco do Tatu em 1937, na Vila Santa Teresinha. 

No ano de 1938, Zé da Igrejinha fundou uma nova agremiação carnavalesca que buscava valorizar valores da negritude no carnaval da cidade. Até o momento não veio a lume fotografia de época desse bloco ou maiores detalhes descritivos para avaliar o que de fato trouxe às ruas. Mas a modesta notícia jornalística abaixo, publicada nesta cidade, pode trazer algumas pistas:


"Aldeia Africana. É mais um rancho que se filia á galeria dos novos. Surgiu bem disposto na arena dos peleadores, trazido pelas mãos desse esforçado folião, o Zé da Igrejinha.
Ao aprecial-o é mister levar em conta o esforço de seu creador, que vencendo obices de toda sorte, veio do antigo 'Capão da Traição'  para mostrar que mesmo lá é sempre fiel aos seus impulsos carnavalescos, fazendo por isso questão de apresentar a sua parceirada em forma, empunhando cantaros e lanças precedidos de uma porta bandeira do barulho e escoltada por um chôro daquelle geito. 
Agradou." 

Notícia jornalística d'Aldeia Africana.

O jornalista previne o leitor para considerar as dificuldades enfrentadas para por o grupo à rua, mas diz que o desfile agradou. Na notícia, Matosinhos surge entre aspas com a alcunha de "antigo Capão da Traição", fruto da ideia equivocada mas então em voga, que o mais sangrento episódio da Guerra dos Emboabas, conhecido sob este nome, teria acontecido nesse bairro. 

A porta-bandeira era "do barulho" e um coro de vozes fazia acompanhamento, sob a forma de "um choro daquele jeito". Está aqui insinuada a musicalidade e a ginga que herdamos do africano, que tanto engrandece a cultura nacional. 

A citação específica à presença de cântaros e lanças evoca de imediato valores africanos. Os cântaros ou potes cerâmicos, são muito usados no cerimonial dos terreiros de religião de matriz africana, as quartinhas, contendo água perfumada com ervas votivas próprias de cada orixá, concentrando o axé; jarras cheias desse preparo perfumoso com que se lavam as escadarias de algumas igrejas, a mais clássica de todas, a do Bonfim na capital baiana. No passado houve mesmo, em Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e donde se trouxe também ao Rio de Janeiro, um préstito de mulheres afro-descendentes chamadas originalmente "talheiras", porque traziam à cabeça no ato do desfile, talhas ou potes de barro, com seus líquidos preparados. As talhas ao longo dos anos foram abandonadas. Logo o nome foi corrompido para "taieiras" e tiveram sua importância como matriz das agremiações do final do século XIX (**).

Quanto às lanças parece que Zé da Igrejinha quisesse simbolizar alegoricamente elementos tribais e não é possível resistir à tentação muito forte de rememorar o desfile carioca (embora os houvesse também em Salvador, donde possivelmente procedem) dos cucumbis ou quicumbis, espécie de congados, digamos assim por questão didática de mera assimilação. Eram grupos formados por negros que também difundiam valores culturais africanos no carnaval oitocentista e entre seus vários grupos no Rio de Janeiro à época da abolição, havia um cujo nome de batismo era "Lanceiros Cucumbis". Em São João del-Rei a terminologia não é desconhecida, tanto que no Bairro das Fábricas no final do século XIX havia a Chácara do Quicumbi, entrecortada por um diminuto córrego homônimo, hoje quase sem água e perdido no escuro das galerias urbanas. Esta chácara foi desapropriada para dar lugar ao Cemitério Municipal, ainda hoje conhecido popularmente por "Cemitério do Quicumbi". 

É mera cogitação, leviana até, mas tentadora, ou provocadora de novas pesquisas: o que foi realmente essa Aldeia Africana? Um bloco ou rancho que figurasse na medida das possibilidades uma reprodução dos quicumbis e talheiras cariocas que acaso o Zé da Igrejinha tivesse conhecido? Ou nada disso, apenas coincidência de alegorias... Seja como for ele teve a coragem de naquela época afirmar publicamente seus valores étnico-culturais, deixando consignado que o carnaval também é do negro, que muito contribuiu para o momo. É bastante arrojada sua iniciativa numa época que se buscava o luxo dos desfiles e o que se tentava era imitar o carnaval carioca através de seus famosos clubes e cordões e buscar inspirações no glamouroso carnaval europeu.

Está claro que o elemento cultural evocador do africano estava vivo no carnaval daquela época. A mesma fonte jornalística nos diz que no mesmo ano saiu também às ruas da cidade o Bloco Esperança do Amor, do qual disse expressamente: 

"É outro iniciante que vem de alcançar satisfactorio successo. Pequeno, porem bem ensaiado, com jogos e evoluções interessantes, fazendo recordar o vilão, dança de origem africana, como a cuíca, usada pelos congadeiros, e agora trazida para o carnaval. Mereceu palmas, que o povo não lhe regateou."

Pelas curtas notas acima fica consignada a homenagem ao negro, que seja nesta terra seja em muitas outras, deixou e deixa seu imenso legado cultural para contribuir amplamente com a construção da identidade brasileira. 

Referência Hemerográfica

O Correio, n.595, 06/03/1938, São João del-Rei


Referência na Web

BRASIL, Eric. Cucumbis Carnavalescos: Áfricas, carnaval e abolição (Rio de Janeiro, década de 1880). In: Afro-Asia. 

Notas e Créditos

* Fotografia cedida gentilmente para reprodução pelo sr. Luís Pereira dos Santos, cujo pai e avô dele participaram do grupo. Autor não identificado. 
** Um dos últimos ou talvez o último grupo remanescente de taieira resiste em Laranjeiras/SE, agregado à Festa de São Benedito e Santos Reis, a 6 de janeiro. 
*** Texto e fotomontagem da nota de jornal: Ulisses Passarelli

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

É tempo de Folia de Reis!


Folia de Reis do Bairro Bom Pastor, de Matosinhos, São João del-Rei,
saudando o presépio na Igreja de Nossa Senhora das Mercês, em
Mercês de Água Limpa (São Tiago/MG), durante o XV Encontro
de Folias de Capelinha. Grupo do Mestre "Didinho" (Geraldo Domingos Resende).

Notas e Créditos

* Texto: Ulisses Passarelli
** Gravação e edição: Iago C.S. Passarelli, 26/01/2014