sábado, 28 de setembro de 2013

Ex-votos de Matosinhos

Em São João del-Rei é muito antigo e tradicional o costume votivo de ofertar nas igrejas uma memória de graça alcançada. São os ex-votos. 

Um velho texto jornalístico da cidade informou sobre um destes, achado no atual distrito de Emboabas: 

"S.Francisco de Assis do Onça (do correspondente). Continua em construção a matriz deste distrito, tendo sido demolida toda a parte velha. Foi encontrado debaixo do altar-mor curiosíssimo quadro de madeira, pintado a óleo, com os seguintes dizeres: "Milagre que fez S.Francisco de Assis do Onça a D.Delfina Maria de S.José, que estando seu irmão Gabriel Fernandes do Nascimento muito enfermo de huma febre pôdre apegando-se com o dicto Santo de que logo foi alcançando milhoras, até que de todo livre da referida molestia expoz esta memoria na hera de 1823."

Passando por Conceição da Barra de Minas nas primeiras décadas do século XIX, o francês Saint-Hilaire comentou sobre os ex-votos do lugar: 

"Parece que há muita devoção à Virgem da Conceição, pois existe na sua igreja grande número de pequenos quadros, que representam curas operadas milagrosamente por sua intercessão."

No Bairro de Matosinhos, nesta cidade, a "Sala dos Milagres" congrega vários desses ex-votos, dignos de nota, em diversos estilos, alguns do século XVIII e XIX. Outros são dos novecentos e até mais recentes, entre pinturas, desenhos, fotografias, objetos (sobretudo peças de cera). Guardam um grande valor etnográfico e se alinham perfeitamente com outros exemplares ex-votivos dos centros de romaria. São reveladores da ligação entre o homem e o mundo sagrado, testemunhas concretas da fé do povo, provas materiais que buscam atestar as graças alcançadas pela força da fé, fortalecendo o prestígio das invocações aos santos. 

Como exemplo dessas peças veja as fotografias abaixo: 

Transcrição: "Antonio Carlos de Resende sofreu  uma grande Pneumonia, que o Senhor Bom Jesus de Mattosinho 
o salvou por um milagre. No anno de 1896." 

 Ex-voto do século XVIII que mostra um escravo sendo milagrosamente salvo
 de um afogamento por obra do Senhor de Matosinhos. 

Ex-voto de 1887 dedicado a Nossa Senhora da Conceição pela cura de feridas advindas de uma queda, 
sofrida por uma mãe e seu filho. Santuário de Matosinhos. 

Referências Bibliográficas

SAINT-HILAIRE, Auguste de. Viagem às Nascentes do Rio São Francisco e pela Província de Goiás. Rio de Janeiro: Nacional, 1944. 343p. p.128. Coleção Brasiliana, Série 5ª, v.68.  

Referência Hemerográfica

Diário do Comércio, São João del-Rei, n.75, 02/06/1938 (Acervo da Biblioteca Municipal Baptista Caetano d'Almeida)
Notas e Créditos

* Texto e pesquisa: Ulisses Passarelli
** Fotos: Iago C.S. Passarelli, 2013.
*** Veja também:

Dois ex-votos centenário da Terra de Nhá-Chica
Ex-votos
Ainda dos ex-votos


domingo, 15 de setembro de 2013

Matosinhos, 2013: um grande jubileu em São João del-Rei

O dia 14 de setembro de cada ano é marcado em São João del-Rei por uma grande festividade religiosa que agita e revigora o bairro de Matosinhos. Nesta data fixa comemora-se o dia maior do grande jubileu do Senhor Bom Jesus de Matosinhos. 

Antecedido por novena, com missas diárias, a temática religiosa é abordada a cada dia por um sacerdote convidado, dando ao fiel a oportunidade de ouvir a diretriz proposta para o jubileu daquele ano sob diferentes pontos de vista, sendo assim muito enriquecedor no processo de evangelização. 

Altar enfeitado durante o Jubileu do Senhor Bom Jesus de Matosinhos. Ao fundo resultado da reforma recém-completada, conduzida pelo pároco, Padre José Bittar, que destacou as imagens do Divino Espírito Santo e Nossa Senhora da Lapa, agora ladeando a cruz do Senhor. 

A data principal se desenha desde cedo com o foguetório da alvorada, às 6 horas da manhã, e ao longo dia as celebrações acontecem aglomerando fiéis que lotam o santuário. Ao fim da celebração é comum ver-se pessoas observando os muitos ex-votos na popular "Sala dos Milagres". 

A procissão noturna é o que há de mais marcante no jubileu e impressiona notavelmente pelo número arrebatador de fiéis. Ao toque dos sinos, uma massa humana gigante se apodera da Avenida Josué de Queiroz em duas alas principais. A perder de vistas sobe aquela importante artéria de trânsito e custa muito a que chegue a vez do pesado andor, carregado nos braços, bastante enfeitado e iluminado, graças ao carinho dos devotos. Entre as flores, uma nota de destaque como todo ano se nota, é dada aos antúrios (araceae), abundantes nesta quadra do ano. Em volta do andor e na sua retaguarda já não se nota as duas alas, mas um aglomerado de pessoas movidas pelas mesma causa devota.

Chegada da Procissão do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, notando-se a intensa aglomeração de devotos.

A excelente Banda Sinfônica do Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos deu cobertura á parte musical, sob a competente regência de Ronaldo Medeiros, que com proficiência conduziu os jovens músicos. 

Do lado externo, nos intervalos das comemorações religiosas e ao seu final, as pessoas aproveitam o momento de socialização que as tradicionais "barraquinhas" proporcionam. Claro que a configuração das barracas mudou com os anos, para se adequar às exigências contemporâneas, com novo estilo (tendas pré-moldadas), questões de segurança e higienização na frente da pauta de preocupações. Outro ponto diferente é que este ano foram externas e não mais no adro. 

Um show ponto-finaliza a festividade. 

Senhor de Matosinhos é uma invocação cristã de procedência portuguesa, que nos chegou no período colonial, sabendo-se que no ano de 1770 foi iniciada a construção da capela primitiva. A notícia da primeira festividade a temos quatro anos depois. Tamanha influência exerceu que mudou o nome do lugar, antes chamado "Vargem da Água Limpa", mudado para Matosinhos pela força sugestiva da devoção. Até data incerta do século XX realizou-se esta festa junto com a do Divino, na segunda-feira imediatamente a Pentecostes. Uma notícia jornalística de 1922 indica que neste ano já acontecera a festa do Bom Jesus em separado, no mês de setembro. 

Flagrante da condução do andor do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, vendo-se à direita o 
Prefeito Municipal de São João del-Rei, Professor Helvécio Luiz Reis, conduzindo uma lanterna, 
seguido por membros da Irmandade do Santíssimo Sacramento. 


Foguetório na chegada da procissão. 

Notas e Créditos

* Texto: Ulisses Passarelli
** Fotos: altar e chegada da procissão, Ulisses Passarelli; demais, Iago C.S. Passarelli, 14/09/2013.
** Assista ao vídeo da saída da procissão:
Senhor Bom Jesus de Matosinhos

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Chagas Dória, outro nome de Matosinhos

Houve época que tal importância atingiu o movimento ferroviário em Matosinhos, já sobejamente demonstrado neste blog, com centro na estação local da EFOM,chamada Chagas Dória, que este nome passou à condição de sinônimo do grande bairro. Bairro de Chagas Dória era então o próprio Matosinhos. As duas antigas notícias abaixo deixam claro esta denominação.


Detalhe da estátua-chafariz do Largo de Matosinhos. 
Foto: Iago C.S. Passarelli, 2013

Exames em Chagas Doria
Realizaram-se em Chagas-Doria, ha dias, as provas anuais porque têm de passar os alunos que alli frequentam estabelecimentos públicos de ensino.
Na escola masculina, regida pelo professor Carlos dos Passos Andrade, a  banca foi formada pelos professores Pedro Raposo e Augusto Mello da Motta.
Findos os trabalhos houve preleção pelos dois examinadores, canticos e acclamações aos srs.. presidente da Republica, presidente do Estado, secretario do Interior, presidente da Camara Municipal e inspetor escolar.
Na escola feminina, regida pela normalista Isabel da Conceição Pereira, compõe-se a banca da normalista senhorinha Maria Esther Pereira da Silva e do sr. Plinio Campos da Silva.
O presidente da banca effectuou uma preleção alusiva ao acto, havendo, após, cantos cívicos pelo corpo discente.

Fonte: Jornal A Tribuna, São João del-Rei, n.804, 25/11/1926. Acervo Digital da Biblioteca Municipal Baptista Caetano d’Almeida.


Chagas-Doria
Recebemos de Chagas Doria uma carta, contestando afirmações que, ha dias, nos foram comunicadas daquele subúrbio sanjoanense e a que demos guarida nesta folha.
Segundo o missivista, é falso que os srs. Pedro Ferreira, “respeitável cidadão”, e Paulo Campos, filho do saudoso negociante sr. Gustavo Campos se possa atribuir a pecha de “perturbadores da ordem” dalli.
Ficam aqui consignadas, de acordo com o nosso feitio de órgão legal, taes declarações.

Fonte: Jornal  A Tribuna, São João del-Rei, n.799, 07/11/1926. Acervo Digital da Biblioteca Municipal Baptista Caetano d’Almeida.  



Notas e Créditos

* Fotomontagens, pesquisa e texto: Ulisses Passarelli