terça-feira, 20 de maio de 2014

Ser Imperador

No ano anterior escrevi sobre os imperadores da Festa do Divino quanto ao aspecto histórico, pincelando algumas informações acerca da escolha e coroação. No informativo do jubileu de 2013, este texto pode ser lido pelos que se interessarem nestas informações.

Mas ora focalizo outra vertente, bem mais intrínseca e difícil de explanar, ligada à idealização do que se espera de um Imperador do Divino. Sou suspeito para falar e eu mesmo não sei se sou ou fui o que escreverei, mas colocarei o que penso que todos os imperadores devessem se esforçar para ser.

É preciso entender que o imperador representa na festa do Espírito Santo um personagem muito tradicional, que concentra em si todo o simbolismo da cultura popular acerca do sagrado em relação a esta festa. Sua figura é muito respeitada e se torna o festeiro de honra, o representante maior da comissão de festejos nos eventos sociais e religiosos ao longo de todo o ano. Se o presidente é na atualidade a figura maior na estrutura administrativa do Jubileu do Divino, o imperador é o elemento exponencial na estrutura simbólica, festiva e cultural.

Isto impõe à Comissão Organizadora uma grande responsabilidade na escolha do próximo imperador a cada ano. É preciso escolher com plena maturidade, senso crítico, isenção de questões pessoais. Uma escolha eventualmente mal sucedida pode ser desastrosa, até porque o imperador perde a coroa, mas não perde o império ante o novo coroado; em outras palavras, segundo entendimento geral dos festeiros, não existe ex-imperador, mas imperador de 1998, de 1999, de 2000... etc.

Os possíveis candidatos devem ser analisados sob um crivo de comportamento, dedicação, empenho, responsabilidade, apego à causa, trabalho prestado à festa, espírito de cooperação. Logo se vê que o ato de ser imperador não deve ser encarado como uma aventura, um luxo ou um degrau social a se subir para ganhar visibilidade. É um compromisso vitalício, perene.

O grau de comprometimento com a programação festiva, com as reuniões ordinárias e extraordinárias, com as participações em outros eventos que a comissão organizadora é convidada e com a coordenação das atividades cotidianas exigidas para a difícil tarefa de organizar a festa, tudo enfim, deve ser intenso e vivenciado com fé. Por traz da capa de veludo, da gravata, dos aplausos e flash’s fotográficos existe o peso de uma grande responsabilidade.
Bispo Diocesano de São João del-Rei,
Dom Célio de Oliveira Goulart,
coroa o Imperador do Divino,
Edmilson Washington da Silva.

É preciso pontuar também a natureza específica dos festejos em São João del-Rei, que reúnem no Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos um número considerável de grupos culturais, sobretudo congados e folias, com os quais o imperador deve exercer um papel de interlocução, fazendo o elo que diferencia por completo a presença deles, de mera apresentação para uma participação integrada. Desta forma, como o grande anfitrião, deve ter pleno respeito aos congadeiros e foliões, mesmo que não compartilhe de suas crenças e ritos.

Na outra ponta o imperador é o canal da maior importância para conservar o diálogo com o clero, transmitir e fazer cumprir as diretrizes eclesiásticas, sendo a Igreja a verdadeira Mãe da comemoração, que em síntese acontece em seu espaço físico e orientação espiritual. Nunca é demais lembrar que Pentecostes é uma data litúrgica das mais relevantes para o cristianismo e o Jubileu do Divino desde sempre é uma festa católica.

Defendo que a Comissão do Divino devesse estruturar um “Conselho dos Imperadores” como órgão consultivo, que poderia ser muito útil diante de questões as mais diversas e que reforçaria a coordenação da festa pelo compartilhamento de responsabilidades.  

O imperador é, portanto, o festeiro especial, aquele que acolhe e transmite, pondera e equilibra, recepciona e promove, dá o exemplo e arregaça as mangas para o trabalho, que se inteira da história da festa e da programação para seu próprio saber e para respaldo das entrevistas e perguntas de fiéis. Ser imperador é encarnar e incorporar o festeiro ideal, que age em irmandade, movido pela devoção, dando seu esforço voluntário pelo bem comum. 

Notas e Créditos

* Texto: Ulisses Passarelli
** Foto: Iago C.S. Passarelli, 20/05/2013
*** Texto escrito a pedido da Comissão do Divino. Publicado em: Informativo do Jubileu do Divino Espírito Santo, São João del-Rei, Paróquia de Matosinhos, n.17, jun./2014. 

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