quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Pavilhão do Bicentenário


Em São João del-Rei/MG, o “Pavilhão do Bicentenário” (dito Pavilhão de Matosinhos, alcunhado Capitólio ou Castelo) foi construído em 1913 em imponente estética arquitetônica mourisca, no local onde hoje se situa o SENAI, na Praça do Senhor Bom Jesus de Matosinhos. Foi feito em comemoração aos duzentos anos de elevação do Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar à categoria de vila, com o nome de São João del-Rei. Objetivava sediar uma exposição permanente da atividade industrial e comercial. Jornais da época registraram notícias, hoje significativas fontes de referência. As obras iniciaram comentando-se que [1]:

"No pittoresco arrabalde de Mattosinhos, começaram no dia 13 do andante, os trabalhos da Exposição, que a commissão central, composta dos srs. Carlos Guedes, Alberto Bastos e João Viegas, pretende apresentar aos nossos visitantes, por occasião do bi-centenário de S. João d’El-Rey." (Etc.)

O prédio tinha arquitetura arrojada para a época e trouxe dificuldades técnicas [2]: "os trabalhadores do pavilhão de Mattozinhos queixam-se da falta de um feitor ou mestre que conheça o serviço."

Na inauguração houve grande festa a 14 de julho, atraindo enorme multidão e é claro, os políticos influentes na época [3]:

"A esphera da cupola foi então collocada pelo snr. Dr. Augusto Pestana, Director da E. F. Oeste, o qual subiu ao andaime até o ponto elevado a 25 metros do solo, em companhia do membro da Commissão, snr. Carlos Guedes (...) No momento da collocação da esphera subiram as girandolas de foguetes e a musica do 51 de Caçadores, gentilmente cedida pelo seu distincto commandante, Coronel Dr. Eduardo Socrates, executou um bellissimo dobrado."

Discursaram: Sebastião Sette (pelo povo), Odilon de Andrade (agente executivo), Dr. Pestana (diretor da estrada de ferro), Augusto Viegas (vice-presidente da Câmara), Carlos Guedes (pela comissão encarregada da construção) e o Cel. Severiano de Rezende.


Pavilhão de Matosinhos.
Foto: autor e data não identificados.

Uma notícia jornalística revelou sobre as comemorações pentecostais de 1915: 

"correram animadissimas as festas de Mattosinhos, este anno. A concorrencia foi enorme e grande o numero de barracas, tendo sido tambem aproveitado o pavilhão do bicentenario, onde funcionaram a Confeitaria Faleiro e os Fantoches do mestre Isaias. (...) No ultimo dia houve no Pavilhão, promovido pelo sr. Durval Lacerda, um baile, que, infelizmente, não sabemos porque, correu desanimado, com pouca concorrencia, devido, talvez, ao cansaço das moças com as festas." [4]

Recorte de matéria jornalística, parcialmente transcrita acima. 
A Tribuna, n.46, 30/05/1915, São João del-Rei. 

No entanto, a obra monumental foi alvejada por críticas. A construção foi considerada por demais dispendiosa e no mais, houve atraso no seu cronograma, não tendo ficado pronta a tempo do bicentenário, só sendo inaugurada no ano seguinte. A construção ficou ociosa, com eventual uso provisório e indigno por sinal, como, ocupada por bancas de jogos de azar nas festas do bairro. Em 1923 passou por melhorias, que empolgaram. Mas o plano geral não parece ter ido adiante:

"A nossa municipalidade levou a effeito os concertos necessarios no Pavilhão de Chagas Doria, onde foram fechadas todas as portas e limpas todas as suas dependencias. O grande predio apresenta agora garboso aspecto. Conforme já noticiamos, nele, dentre em breve, funccionarão, no pavimento superior, um laboratorio de analyses de terras e um mostruario de productos agricolas, servindo o rés do chão para deposito de machinas destinadas á lavoura, dependencias essas do Ministerio da Agricultura, ao qual será entregue, dentro em breve, aquelle palacio, que nos custou cento e vinte contos de réis, outróra abandonado e prestes a entrar em ruinas." [5]

Ainda que em 1929 tenha sediado a Escola Padre Sacramento, logo esta foi transferida para o Patronato. Assim, o prédio caiu novamente em abandono e incomodou a sociedade da época por ser frequentado por mendigos, prostitutas, malandros, banqueiros de jogos. De acordo com informações bibliográficas era taxado de lugar propício à imoralidade e foi demolido, ato à época tido por alívio, mas hoje, representa um sinal de ignorância e ingerência.  Na presente pesquisa não se descobriu a data exata da demolição, nem pelas manchetes dos hebdomadários nem por documentos. Sua estrutura era muito sólida, fundada sobre aproveitamento de trilhos ferroviários. Teria sido demolido em 1938, a dinamite (IHG, 1971), durante a administração do Prefeito Antônio Viegas (SOBRINHO, 1996). 

Imoral não era o lugar, mas sim o seu mal emprego e falta de uso, culminando com o ato destrutivo. Houvera ter-se corrigido as mazelas, frutos do descaso do poder administrativo para com um bem público, que propiciou o seu abandono e teríamos ainda hoje o valioso monumento. Não é pois correto afirmar que o pavilhão foi demolido para ali se construir o SENAI, pois este só foi inaugurado bem mais tarde, em 13/10/1952. Se fossem coetâneos, esta conceituada escola técnica que se vê na foto abaixo poderia ter ocupado o vasto e sólido prédio do pavilhão, se ele então ainda existisse...

Vista da edificação situada onde no passado foi o Pavilhão. 
Foto: Ulisses Passarelli, 12/01/2014. 

Referências 

IHG. Pavilhão de Matosinhos. In: Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei, n.1, 1973. p.3.

SOBRINHO, Antônio Gaio. Sanjoanidades: um passeio histórico e turístico por São João del-Rei. São João del-Rei: A Voz do Lenheiro, 1996. 104p.il. p.12-14. 

Créditos

Texto: Ulisses Passarelli.

Notas


- Revisão: 09/07/2025. 


[1] - A Evolução, n.6, 19/09/1913. São João del-Rei. 
[2] - A Evolução, n.23, 15/03/1914. São João del-Rei. 
[3] - Reforma, n.16, 18/07/1914. São João del-Rei. 
[4] - A Tribuna, n.46, 30/05/1915. São João del-Rei. 
[5] - A Tribuna, n.471, 06/05/1923. São João del-Rei. 

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