1- Escola de Laticínio e
Enfermaria Militar
Em
1909 houve uma escola de laticínio no bairro. Veja-se um anúncio a respeito [1]: “sôro de leite. Vende-se em Mattosinhos, a 100 réis o balde de 10
litros e a 40 réis o sôro grosso de manteiga, na Leiteria S. Raphael.”
Em 1915 foi transferida para a atual cidade de Antônio Carlos, antiga Sítio, logo abaixo da estação férrea, próximo à descida da Serra da Mantiqueira [2] .
A perda do laticínio gerou protestos locais e seu prédio ficou devoluto até que no ano seguinte, correu a notícia da criação de um posto zootécnico [3]:
Em 1915 foi transferida para a atual cidade de Antônio Carlos, antiga Sítio, logo abaixo da estação férrea, próximo à descida da Serra da Mantiqueira [2] .
A perda do laticínio gerou protestos locais e seu prédio ficou devoluto até que no ano seguinte, correu a notícia da criação de um posto zootécnico [3]:
"Esteve nesta cidade, em dias da semana passada, o sr. dr. Mourthé,
engenheiro da Secretaria da Agricultura, que aqui veio fazer o orçamento das
obras necessarias á instalação de um posto zootechnico. O posto será installado
no terreno que pertenceu à extinta Escola de Lacticinios, em Mattosinhos."
O
projeto fracassou. No local foi se estabelecer uma polêmica enfermaria militar,
destinada a cuidar de casos de beribéri[4]. Sob crítica, um
hebdomadário noticiava [5]:
"Por acto do governo estadual, foi doado ao Exercito
Nacional o proprio onde funcionou a Escola de Lacticinios em Mattosinhos (...) ao fim humanitario é
verdade, mas incongruente de servir como hospital de beribericos do Exercito."
Temia-se
que do dito estabelecimento de saúde espalhassem infecções aos moradores, o que
não só os afetaria diretamente, como também atrapalharia a fama de pureza
ambiental do lugar. Tal proporção alcançou a polêmica, que o governador do
estado, na época, Delfim Moreira, encaminhou a propósito um telegrama ao
deputado estadual Odilon Andrade, representante regional na assembléia, visando
acalmar a população, garantindo que a unidade de tratamento em nada afetaria o
lugar e ali estaria em caráter provisório [6]. Certa feita a imprensa
descreveu a “scena de sangue”, ocorrida nessa enfermaria [7]:
"Na tarde de terça-feira na Enfermaria Militar do 51º de Caçadores,
situada em Mattosinhos, o soldado José de Sousa, por motivos futeis, assassinou
á faccadas o cabo Motta, crivando-lhe o corpo de golpes. São ambos do 51º de
Caçadores e o cabo Motta era estimado o gosava de bom conceito. O assassino
está preso."
2- Transporte
Em data anterior à construção do ramal
ferroviário das Águas Santas, lá naquele balneário, no município de Tiradentes,
havia o Petit Hotel e Restaurant,
propriedade do sr. Francisco Augusto de Ulhôa Cintra. Para a condução até seu
estabelecimento, dispunha de carruagem tipo trole, puxada por uma parelha de
bestas, que carreava hóspedes e turistas, das Águas Santas até Matosinhos,
Centro e Tijuco. Foi também precursor das exibições cinematográficas na cidade [8].
3- Avião
Consta
que em 1913, pela primeira vez se viu um avião nesta cidade. Chegou desmontado
num vagão-prancha, da estrada de ferro e o aviador, Ernesto Darioli, o montou
na Praça Pedro Paulo. A população acorreu em peso, alvoroçada pela novidade.
Contudo, as condições atmosféricas estavam inadequadas para se alçar vôo e
enquanto aguardavam o momento certo, muitas horas se foram passando e o povo
ficou insatisfeito. Insuflados os ânimos, o responsável, sentindo a forte
pressão popular, decolou a aeronave assim mesmo e pouco voou: caiu de bico no
bambuzal do campo de futebol do Athletic
Club [9].
4- Foras da lei
Ladrões já agiam no bairro em 1939, não poupando nem a igreja [10]: “um audacioso larapio assaltou o cofre de esmolas e surrupiou o seu conteúdo. A policia precisa dar um passeio por lá, é o que esperam os moradores do populoso bairro”.
Em 1976 os moradores estiveram às voltas com um tarado. As páginas jornalísticas denunciavam [11]:
"Recebemos reclamações de moradores do bairro do Matozinhos que anda
solto nas ruas e ninguém tem a coragem de dizer que existe no bairro um homem
que abusa da inocência das crianças, com promessas de doação de pássaros e
outras bobagens mais, para atrair garotos menores para dentro de sua casa." (Etc.).
5- Descendente de Tomé
A
imprensa local destaca em 1945 o nascimento nesta cidade de Tânia Mara,
descendente do primeiro morador de Matosinhos, Tomé Portes del-Rei. Era filha
do casal 1º Tenente João Crysostomo de Campos e D. Carmelita Macedo Campos. A
menina era ligada aos Bueno, através de sua avó paterna, até Bartolomeu Bueno
Gago e deste ao povo de Tomé. A genealogia completa está nos jornais [12].
6- Grupos folclóricos
Apenas pelas informações orais sabe-se que existiu um congado na área da Vila Nossa Senhora de Fátima pelo final dos anos cinqüenta e começo da década seguinte. Era uma guarda mista, com elementos de moçambique e de catupé, predominando o primeiro nos tempos do capitão “Geraldão” e o segundo na época de seu sucessor, “Zé Tita”. Geraldão era responsável por um centro na vila ao qual se ligava a guarda. Não sei contudo qual era sua linha de trabalho espiritual. Já Zé Tita morava próximo a Horta Velha, no atual Bom Pastor de Baixo. Consta que era também “palhaço”, o personagem mascarado da folia de Reis, salvo engano na do “Chico Zacarias”, das bandas do Tijuco. Após seu falecimento substituiu-o como palhaço o sr. Altamiro Ponciano, conhecido cacique de congado do Bairro São Dimas (guarda do Zé Camilo), festeiro do Rosário no Bairro São Geraldo e sobrinho de Geraldão. Este congado de Matosinhos esteve presente na primeira festa do Rosário que se realizou no bairro São Geraldo, em 1958, juntamente com o terno do capitão Luís Santana, do Bairro São Dimas. Sugestiva a interligação antiga desses bairros por desses capitães.
Apenas pelas informações orais sabe-se que existiu um congado na área da Vila Nossa Senhora de Fátima pelo final dos anos cinqüenta e começo da década seguinte. Era uma guarda mista, com elementos de moçambique e de catupé, predominando o primeiro nos tempos do capitão “Geraldão” e o segundo na época de seu sucessor, “Zé Tita”. Geraldão era responsável por um centro na vila ao qual se ligava a guarda. Não sei contudo qual era sua linha de trabalho espiritual. Já Zé Tita morava próximo a Horta Velha, no atual Bom Pastor de Baixo. Consta que era também “palhaço”, o personagem mascarado da folia de Reis, salvo engano na do “Chico Zacarias”, das bandas do Tijuco. Após seu falecimento substituiu-o como palhaço o sr. Altamiro Ponciano, conhecido cacique de congado do Bairro São Dimas (guarda do Zé Camilo), festeiro do Rosário no Bairro São Geraldo e sobrinho de Geraldão. Este congado de Matosinhos esteve presente na primeira festa do Rosário que se realizou no bairro São Geraldo, em 1958, juntamente com o terno do capitão Luís Santana, do Bairro São Dimas. Sugestiva a interligação antiga desses bairros por desses capitães.
Congado do Zé Tita. Foto: autor e data não identificados.
Gentilmente ofertada para reprodução por Altamiro Ponciano.
Gentilmente ofertada para reprodução por Altamiro Ponciano.
Quanto às
folias foi afamada noutros tempos a de João Ramos e mais recentemente cheguei a
alcançar a existência das seguintes: do sr. Otávio José Gatti (“seu Juquinha”),
no Pio XII, cuja última apresentação sob seu comando se deu em 1998. Tinha por
embaixador o afamado sr. Jesus; a do “Nhonhô”, era do Bom Pastor, que também
tinha alguns componentes da Casa da Pedra. Tinha por embaixadores Antônio
Marinho e Dimas Lobo; e ainda a folia do sr. José Joaquim Filho (“Zé Moreno”),
da Vila Santa Terezinha, que se manteve até 1994 a partir do qual em virtude de
problemas de saúde de seu mestre já não encontrou mais condições de permanecer.
Zé Moreno foi um dos mais capacitados foliões conhecidos nesta cidade que o
adotou, pois era natural de Ribeirão dos Pintos (Resende Costa). Fora discípulo
do célebre mestre-folião “Zé Biguá”, de Congonhas / MG [13].
Nem aquele
congado nem essas folias adentraram no século XXI. Exceção se faz à Folia do
Pio XII, que ainda prossegue, em continuidade, agora no Bom Pastor, sob a organização do folião
Geraldo Domingos Resende (“Didinho”), desde 1999.
Folia do Divino do Bairro Bom Pastor, Matosinhos, São João del-Rei/MG.
Folião: Geraldo Domingos Resende.
8- Cinema
Em 1951
instalou-se nesta cidade o Cine Arthur Azevedo, pelo clube teatral homônimo, no
seu mesmo prédio à entrada do bairro Tijuco (Rua General Osório). Mais tarde a
empresa abriu uma filial no Matosinhos situada na Avenida Josué de Queiroz [14].
Não existe
mais cinema no bairro.
7-
Jocosidade
Em velhos
jornais da cidade localizei duas passagens irônicas ou acerca do bairro ou como
indireta a algum
morador seu:
-
Que tens, Mattosinhos, diz o Fabrino, estás a chorar?
-
Pois tenho razão, respondendo o Mattosinhos, com o violino quebrado
debaixo do braço, fui expulso da orchestra pelo maestro, que me disse não ter
mais violino para me dar, pois si eu quebro todos com o queixo.
-
Infeliz de quem sendo queixudo e tendo veia de artista se mette a tocar
violino. De hoje em diante passe a tocar o bombo com o queixo ou o empregue
como castanholas.”
* * *
23 (retardo devido exercicio bananeiras). Segue
grande numero voluntarios, sendo chefe capm. Tonelli; especialidade manejos.
Povo Canudo espera chefe voluntarios. Passagem acima gratis.”
Matosinhos foi também importante polo esportivo. Neste bairro foi sediado o "Sport Club Brasil", conforme notícias do jornal são-joanense A Tribuna, nº1.406, de 05/12/1937.
Foto-montagem do autor, acervo do site da Biblioteca Municipal Baptista Caetano d'Almeida, São João del-Rei. |
* Texto: Ulisses Passarelli
[1] - A Opinião, n. 16, 01/09/1909.
[2] - A Tribuna, n. 45, 23/05/1915.
[3] - O Zuavo, n. 76, 20/02/1916.
[4] - “Doença devida à deficiência de vitamina B1,
e que se manifesta pela rigidez espasmódica dos membros inferiores, com atrofia
muscular, paralisia, anemia e nevralgias. // F. é palavra do Ceilão (atual
Bangla Desh) béri, e significa grande fraqueza”. AULETE, Caldas. Dicionário Contemporâneo da Língua
Portuguesa. Rio de Janeiro: Delta, 1978.
[5] - O Zuavo, n. 85, 18/05/1916.
[6] - Reforma, n. 13, 04/05/1916.
[7] - Reforma, n. 5, 02/05/1914.
[8] -
Informação pessoal datada de 23/12/2008 dada pela professora Ana Cintra, filha
do historiador e genealogista Sebastião de Oliveira Cintra, que por sua vez é
filho do proprietário daquele estabelecimento. Foi corroborada por Silvério
Parada, na mesma data.
[9] -
LOPES, Antônio Tirado. Relatos interessantes. Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei, v.
6, 1988.
[10] - Diário do
Comércio, n. 360, 20/05/1939.
[11] -
O Raio, n. 235, 08/09/1976.
[12] -
Diário do Comércio, n. 2.124,
08/04/1945 e O Correio, n. 1.090,
15/04/1945.
[13] -
Informação pessoal do sr. Sebastião Carvalho da Silva (“Tião do Fole”), em
19/01/2007.
[14] -
Revista do Instituto Histórico e
Geográfico de São João del-Rei, n.6, 1988, p.106.
[15] - The Smart, n.4, 06/12/1908.
[16] - A Gralha, n.3, 30/07/1899.
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