“Razões”
do progresso puseram abaixo todo o casario colonial do bairro e mais
recentemente as casas de estilo eclético. Restam duas dignas de nota, do começo
do século XX, que conservaram o ecletismo: uma na Rua General Aristides Prado e
outra na Bernardo Guimarães. A essa
sanha demolidora resistiu felizmente a estação ferroviária e a clássica estátua-chafariz,
situada na praça principal.
No
fim da década de 1990 um apelo de moradores mais sensíveis do bairro visava
restaurar o pouquíssimo que sobrou. Sempre divulgando, aqueles esforçados
cidadãos acabaram por lançar um projeto, “Triângulo Histórico Monumental do
Bairro de Matosinhos”, que tinha por vértices a restauração da estação de
Chagas Dória, a construção de uma réplica da igrejinha demolida (para servir de
capela do Santíssimo e sala de ex-votos) e outra réplica, ainda que só da
fachada, do também demolido pavilhão do bicentenário. A igrejinha seria feita
no adro da atual e o pavilhão no desativado matadouro.
A
ampla divulgação levou a muita repercussão na imprensa mas infelizmente, por
falta de verbas e sobretudo de vontade política o projeto não se concretizou e
dele não se tem mais falado [1].
A estação foi restaurada bem depois, sem vínculo com o projeto.
1- Estátua-chafariz
Controvertida é a história deste monumento, cheio de
incertezas históricas. Novas considerações e estudos revelam equívocos do
passado e trazem outras interpretações. É divulgado que esta peça de ferro
fundido foi adquirida pela câmara municipal em 1887, mas exatamente a fonte
original desta informação é por oras desconhecida.
Tradicionalmente o chafariz encimado por uma estátua
tem sido interpretado como Ceres, que na mitologia romana é a deusa da
agricultura e da colheita.
Neste sentido o monumento representa uma mulher
elegante, segurando ferramentas de uso agrário (ancinho e segador) e tem aos
pés um feixe de ramos de trigo. Na base, como um pedestal muito bem trabalhado,
há de cada lado duas caras medonhas de cujas bocas jorrava água para dentro das
respectivas bacias. Essa carantonha representa o Fauno, entidade romana da
natureza.
Outras interpretações porém lhe atribuem um aspecto de
jovem rapaz com trajes romanos, portanto estátua masculina, representativa do
verão.
Ficava na lateral da igrejinha
demolida. Em certa época dos novecentos, este chafariz foi retirado de
Matosinhos e enviado para o Bonfim, onde ficou junto à estação de tratamento de
água. Retornou a Matosinhos, ocupando o centro da praça. Era cercado de uma
grade baixa, pintada de cor alaranjada, prejudicando ainda mais o seu visual,
já poluído por conta dos trailers e barracas que ali infestavam. A
grade não lhe garantia segurança, tanto que no poente de 1998 uma tampa de
ferro fundido da parte posterior de sua base, cheia de floreados em alto
relevo, foi roubada e vendida para um ferro-velho da cidade. Felizmente pôde
ser recuperada. Com a reforma da praça em 2003 essa grade foi retirada.
No carnaval de 1999, um gaiato em flagrante
desrespeito subiu sobre a estátua-chafariz, pendurou em sua cabeça um pano como
se tivesse com um lenço amarrado. Assim fotografada, saiu na Gazeta de São João del-Rei como a foto
da semana, na edição n. 32, de 27 de fevereiro daquele ano.
Embora seja um
chafariz há anos não jorra água.
Esta estátua possui tombamento pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural, desde o
ano 2000 [2].
Na cidade, já correu proposta de retirá-lo de Matosinhos e trazê-lo para o centro histórico da cidade, sob alegação do patrimônio arquitetônico do bairro estar todo degradado e assim não fornecer mais entorno e ambiente propício. A ideia é duramente combatida pelos apaixonados por Matosinhos.
Sobre a origem desta estátua hoje se sabe graças à perspicácia do professor Antônio Gaio Sobrinho que se trata de uma peça da fundição francesa Val d’Osne [3]. Pensava-se antes numa origem italiana, de Turim.
Na cidade, já correu proposta de retirá-lo de Matosinhos e trazê-lo para o centro histórico da cidade, sob alegação do patrimônio arquitetônico do bairro estar todo degradado e assim não fornecer mais entorno e ambiente propício. A ideia é duramente combatida pelos apaixonados por Matosinhos.
Sobre a origem desta estátua hoje se sabe graças à perspicácia do professor Antônio Gaio Sobrinho que se trata de uma peça da fundição francesa Val d’Osne [3]. Pensava-se antes numa origem italiana, de Turim.
2- Chafariz da Chácara dos
Simas
Houve em Matosinhos um outro chafariz. Era em estilo barroco, com frontispício
entalhado em pedra. Localizava-se próximo à igreja. Um prefeito o retirou sob a
alegação de restaurá-lo e Matosinhos não reviu o monumento.
Lincoln de Souza noticiou acerca de um chafariz colonial removido do
bairro, possivelmente esse mesmo[4]:
desenterrado
aos pedaços dos fundos de uma velha chacara colonial do suburbio de Matozinhos
e reconstruida cuidadosamente, está hoje nas imediações do quartel do 11º
Regimento de Infantaria a atestar a sobria elegancia de suas linhas
arquitetonicas.
3- Monumento à Guerra dos
Emboabas
Datado de 12/10/1990.
Situa-se na praça principal. É um marco de pedra com placa metálica portando
longo letreiro em memória desse embate, travado no período inicial da
mineração, no qual São João del-Rei foi um dos centros com episódios mais
aguerridos.
Foto: Ulisses Passarelli, 06/03/2014. |
Em especial, houve o célebre episódio do Capão da Traição, no qual um grupo de paulistas foi assassinado pelos emboabas impiedosamente, apesar de já terem se rendido dentro de um capão (o mesmo que capoeira, pequena mata), daí dizer-se que foram traídos. O marco rememora em especial esse fato trágico.
O lugar exato do capão não é
conhecido. Uma das correntes defende que se situasse em Matosinhos, tendo a seu
favor grandes nomes como Basílio de Magalhães e Lincoln de Souza. Eis uma citação deste [5]:
"O arrabalde de
Matozinhos a tres quilometros da cidade, onde se realizam anualmente
tradicionais festejos religiosos, cuja fundação data de 1774, foi teatro de
triste episodio que passou á historia conhecido como o do “Capão da Traição”."
Estudos de
GUIMARÃES (1986) apontam como local mais plausível as proximidades do Pombal,
onde nasceu o são-joanense, Alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes.
A terceira possível localização seria nos arredores dos povoados de Canela e
Goiabeiras, em São João del-Rei, tese que tem como baluarte Eduardo Canabrava
Barreiros.
Este monumento foi removido de sua posição original, relativamente próximo aos trilhos da Maria Fumaça, quando da reforma da praça que lhe deu a feição atual com a retirada dos traillers. Hoje se situa mais defronte ao SENAI, defronte aos aparelhos de ginástica. O verso da pedra que fixa a placa com o letreiro citado ganhou outra placa, de natureza política, referente à inauguração da academia comunitária, como se pode ver nas fotos abaixo.
4- Monumento da Maçonaria
Este monumento foi removido de sua posição original, relativamente próximo aos trilhos da Maria Fumaça, quando da reforma da praça que lhe deu a feição atual com a retirada dos traillers. Hoje se situa mais defronte ao SENAI, defronte aos aparelhos de ginástica. O verso da pedra que fixa a placa com o letreiro citado ganhou outra placa, de natureza política, referente à inauguração da academia comunitária, como se pode ver nas fotos abaixo.
Foto: Ulisses Passarelli, 06/03/2014. |
4- Monumento da Maçonaria
Está
situado na praça, mais próximo à estação, no divisor de pistas que serve de
retorno para a Rua Bernardo Guimarães.
Sobre uma
base de concreto armado, em forma de coluna, se assenta em tamanho
considerável, o símbolo maçônico do esquadro invertido, sobreposto pelo
compasso, tendo ao centro a letra gê maiúscula.
Datado de
27/10/1995, comemora o centenário da Loja Maçônica Charitas II, desta cidade.
5-
Monumento ao primeiro pároco de Matosinhos
Busto em
homenagem ao Cônego Jacinto Lovatto Filho, posto na praça, após a reforma de
2010, defronte o santuário, no ano do cinquentenário da paróquia. Inaugurado em
agosto.
Busto do Padre Jacinto.
Foto: Iago C.S.Passarelli, 2012.
* Texto: Ulisses Passarelli
** Fotos conforme legendas
Foto: Iago C.S.Passarelli, 2012.
Notas e Créditos
* Texto: Ulisses Passarelli
** Fotos conforme legendas
[1] -
Sobre o projeto do Triângulo Histórico, ver, dentre outros textos
jornalísticos, os seguintes:
ACI del-Rei, n. 45, out./1998; Gazeta
de São João del-Rei, n. 15, 24/10/1998; n. 17, 07/11/1998; n. 34,
13/03/1999; n. 37, 03/04/1999; n. 40, 24/04/1999; n. 44, 22/05/1999; Tribuna Sanjoanense, n.. 974,
30/03/1999; n. 976, 20/04/1999; n. 980, 18/05/1999.
[2] - O Grande Matosinhos, n. 13, nov. /
2000.
[3] -
Informação pessoal de Francisco José de Rezende Frazão, 25/04/2012.
Ver a respeito desta
notícia: SACRAMENTO, José Antônio de Ávila. Deusa Ceres: ela não é italiana, é francesa! Coluna Gente &
Notícia, ed.146, abr.2012. (Fonte: www.ograndematosinhos.com.br,
acesso em 26/04/2012).
Sobre este monumento ver
também: CARVALHO, José Maurício de. Chafariz da deusa Ceres. Tribuna Sanjoanense, n. 1.040,
03/10/2000.
[4] -
SOUZA, Lincoln Teixeira de. Coisas e aspectos do Brasil. O Carioca, Rio de
Janeiro, 15/02/1941. In: Viagens pelo Brasil e ao Estrangeiro:
caderno de viagens. (Exemplar da Biblioteca Pública Municipal Batista Caetano
de Almeida, São João del-Rei)
[5] -
SOUZA, Lincoln Teixeira de. Predios e sitios historicos de São João del-Rei.
18/02/1941. In: Viagens pelo Brasil e ao Estrangeiro: caderno de viagens. (Exemplar
da Biblioteca Pública Municipal Batista Caetano de Almeida, São João del-Rei).
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